AGAMENON E SEU PORQUEIRO
do livro Pedagogia profana, pág 189
Notas sobre a produção, a dissolução e o uso da realidade nos aparatos pedagógicos
e nos meios de comunicação [1]
Jorge Larrosa (*)
A verdade é a verdade, diga-a Agamenon ou seu porqueiro.
Agamenon: De acordo
O porqueiro: Não me convence.
Antonio Machado/Juan de Mairena
Juan de Mairena, o autor do livro cujas primeiras palavras constituem o apólogo [2] que coloquei na epígrafe deste texto, é um dos trinta e seis heterônimos ou apócrifos inventados por Antonio Machado. Este, por sua vez, é um dos maiores poetas espanhóis deste século e foi, além disso, durante muitos anos, professor de Francês em diversos institutos de educação secundária de algumas cidades de Castilha e Andaluzia. Tal como Machado, também Juan de Mairena era poeta e professor, mas não professor de Francês em um instituto, mas de Retórica, de Poética e de Filosofia na Escola Popular de Sabedoria Superior de uma cidade provinciana freqüentada por um variado grupo de adolescentes. Cético em suas convicções, heterodoxo em sua palavra, enormemente cordial no trato e estritamente socrático em sua pedagogia, Juan de Mairena nos deixou algumas magníficas anotações de suas aulas, nas quais a habitual grandiloqüência metafísica e sublime com a qual se costuma tratar os grandes problemas vitais e culturais está freqüentemente contraponteada com o cinismo engenhoso, brincalhão e saudável de personagens baixos e populares, tais como Perogrullo, Gedeón, Badila, ciganos, artesãos, figuras das ruas ou dos cafés, ou o anônimo porqueiro de Agamenon.
* Jorge Larrosa é professor de Teoria e História da Educação da Universidade de Barcelona.
[1] Capítulo traduzido por Tomaz Tadeu da Silva
[2] - MACHADO, A. (1936). "Juan de Mairena. Sentencias, donaires, apuntes y recuerdos de un profesor apócrifo". In: _____. Prosas Completas. Madri: Espasa Calpe 1989. p.1909.
Fonte: http://e-educador.com/index.php/artigos-mainmenu-100/98-agamenon-e-seu-porqueiro
Foto: Flickr_anelatina_JorgeLarrosa_e5c38aa21d_b
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"Jorge LARROSA, em sua irreverente obra Pedagogia profana trata em toda a primeira parte de termos como experiência e liberdade, trazendo um título no mínimo instigante. Liberdade como um saltar e pensar no ar, um saltar fruto de experiência da aventura. Isto é, um saber do religar-se ao mundo instantes a instantes como faz o saber que perde o medo de sair do pensamento clerical, saber este, que fecha a criação com o pensamento único, prescritivo, teleológico, preso a uma origem, a uma alma suprema, que rouba o mistério do mundo, rouba um ler para o desconhecido, rouba a possibilidade do encantamento".
Em http://poderrepensado.blogspot.com/2006/12/liberdade-como-acontecimento-larrosa-e.html
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Marcada pela incessante busca de sensações, a sociedade contemporânea costuma relacionar tudo aos movimentos e demandas do consumo. Diversas questões, no entanto, dizem respeito a lógicas humanistas, que ultrapassam os códigos econômicos e ressaltam a importância da diversidade e da diferença.Principalmente na educação, ressalta o professor da Universidade de Barcelona e doutor em Filosofia da Educação, Jorge Larrosa Bondía, as experiências pessoais fazem com que a escola, "essa máquina aparentemente unitária", torne-se infinita.
Foto: idem
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(...) Larrosa, no livro Pedagogia Profana, questiona com veemência a "Casa do Estudo" onde tudo está alinhado, ordenado, seguro. O estudante diante desta "totalidade" tão plena não tem chance de perder-se. Esta generosidade, de fato, impede que aconteça o ato de estudar.
"Somente o estudo ameaça o estudante. Porque no estudo, no seu abandonar-se ao estudo, o estudante renunciou também a tudo que poderia tranqüilizá-lo. Não apenas às pequenas seguranças da vida prática, desse mundo diurno da ação e do trabalho, desse mundo seguro em que cada um é o que é, e sabe o que fez ontem e o que fará amanhã, mas também a outras seguranças da verdade, da cultura, e da significação. O estudante renunciou àquilo que o próprio estudo poderia tornar seguro. O estudante, no estudo, perde o pé, perde-se. Por isso, o estudo é aquilo que coloca em perigo, no máximo perigo. (Larrosa,1998, p.249). Este pressuposto do que seja estudar parece estar ausente em algumas propostas para a formação do professor. Nossa insistência é a de que ele não se perca e que sempre esteja absolutamente situado. Esta será a marca de qualidade.
Texto completo em
http://redebonja.cbj.g12.br/ielusc/necom/rastros/rastros02/rastros0206.html
** Professora do curso de Pedagogia, UFSC, na disciplina Fundamentos Filosóficos da educação II e professora credenciada no Programa de Pós-Graduação em Educação, PPGE/UFSC, atuando na linha de pesquisa "Filosofia e Educação".
Foto: http://portucale.blogspot.com/images/Labirinto.gif