quarta-feira, 30 de setembro de 2009

ORGANIZADOR DE CARNE



Profanando as múltiplas vidas

Organizador de Carne funciona como poderosa metáfora sobre o nosso comportamento cotidiano

Helena Katz

Em uma conferência publicada aqui em 2005, o filósofo italiano Giorgio Agamben ampliou a noção de ''dispositivo'' do pensador francês Michel Foucault. Propôs que qualquer coisa com capacidade de orientar, controlar, determinar, assegurar os gestos, as condutas e os discursos dos seres viventes poderia ser entendida como um dispositivo. Ou seja, dispositivos seriam as escolas, as fábricas, a Justiça, a medicina - como dizia Foucault -, mas também os computadores, os celulares, o iPod e, até mesmo, a própria filosofia. É com esse conceito ampliado de ''dispositivo'' que se pode pensar o Organizador de Carne, que Sheila Ribeiro/Dona Orpheline estreou, em São Paulo, no Rumos Dança, e depois apresentou em curta temporada no Itaú Cultural e no Sesc Pompéia.

Sheila Ribeiro nasceu em São Paulo e radicou-se em Montreal, no Canadá, em 1996. Lá, criou a companhia Dona Orpheline, e é professora do Departamento de Cinesiologia da Universidade de Montreal. No Organizador de Carne, sua mais recente produção, conta com a parceria de Josh S., músico-performer que nasceu em Teresina e trabalha no eixo Brasil/Amsterdã.

A obra surgiu de um episódio acontecido no Deic, em São Paulo. Uma policial, ao vê-la passar por baixo do organizador de fila (era madrugada, não havia ninguém), abordou-a, aos gritos: ''Você é gente ou animal?''

O organizador de fila, daqueles que obedecemos em bancos, em aeroportos, em instituições das mais variadas naturezas, é trabalhado nessa obra na sua função de dispositivo, e funciona como uma metáfora poderosa e competente de todo o nosso comportamento. Porque a ambigüidade entre ordem e disciplina, de um lado, e, do outro, o sentido de pertencer a uma sociedade que funciona sem atrito, não está somente no organizador de fila. Está em todos os outros dispositivos com os quais convivemos e deixamos de reconhecer neles a violência simbólica que promovem. O hábito torna invisível uma série de dispositivos, despotencializando a possibilidade de se identificar o que resulta de sua relação conosco. E isso vale também para o mundo digital, como nos informa a obra, que inclui a Second Life, o MSN e o Orkut.

Em todos esses ambientes, nos quais, ao menos teoricamente, operariam novas formas de convívio, fica evidenciada uma duplicação do comportamento de sempre: também já estamos bem treinados pelos dispositivos que operam no mundo digital, e lá cumprem o mesmo papel que o organizador de filas tem fora dele. Fica claro que a nossa percepção está condicionada pela publicidade, pela mídia, pelo consumo, dentre outros dispositivos. Daí a importância do jogo proposto pelo Organizador de Carne, que é o de perguntar se nós ainda somos capazes de perceber o que nos organiza. Se ainda identificamos as vidas duplas, triplas, quádruplas, múltiplas que fazem parte do nosso estar no mundo.

Se o sujeito é o que resulta da relação entre os seres vivos e os dispositivos, como diz Agamben, a necessidade de identificar os dispositivos transforma-se um uma ação política, e dela o Organizador de Carnes se desincumbe muito bem. Nos faz ver, com as situações variadas que apresenta, que o poder não se preocupa em esconder seus atos de exceção porque nos faz acreditar que eles são a norma. De repente, Sheila começa a falar em francês, e nos leva a reconhecer a língua estrangeira como um marcador social. Quando se atenta para o seu figurino, explicitamente voltado para o desejo e a libido, o camuflado do seu shorts se revela uma dica: o que fica camuflado no nosso processo de percepção, e não identificamos porque já está domesticado por tantos dispositivos invisíveis?

Josh S. criou a excelente música, além de ser ótimo DJ e performer, tocar guitarra, e usar o beatbox. A sua desimpostação se alinha com a de Sheila e esse modo de ambos atuarem instaura uma situação tal que coloca quem assiste no papel de um voyeur/hacker a acompanhar as ações dos intérpretes. É uma operação de deslocamento sutil, mas poderosa, de enorme alcance crítico.As cenas são curtas, com um quê da estética das tirinhas de quadrinhos, pautadas pela mesma relação de paródia e síntese dessa linguagem. Em uma delas, em um estado de corpo-cadáver, o de Sheila se posta no chão, atravessando e sendo atravessado pelo organizador de fila, como que nos perguntando: que autonomia tem a arte em um mundo assim?

Só mesmo um corpo-a-corpo com os dispositivos, profanando o que eles instituem na nossa vida, permitirá um resgate do que foi capturado e separado de nós. Não à toa, esse Organizador de Carne instiga a dessacralização.

Foto: http://api.ning.com/files/GbzPzc18q9-zzujAf*QCAyrXd3MCm1MEs0paMcpfOTnayjV2ZlSP7TDHKSRSEp*6rVJ8OWkUg6eNPkUVninNfwJODgYjmCi*/odckatz.jpg

sábado, 26 de setembro de 2009

Festival Internacional de Televisão 2009



O melhor da televisão nacional e mundial, um ambiente fértil de troca de ideias, um primeiro olhar sobre as mais avançadas tecnologias do audiovisual: tudo isso fará parte do Festival Internacional de Televisão 2009, realizado pelo Instituto de Estudos de Televisão entre os dias 10 e 15 de novembro no Rio de Janeiro.

Durante seis dias, o festival oferecerá ao público carioca um panorama completo e diversificado do que está sendo produzido e pensado no meio televisivo ao redor do mundo. O evento, que é o único de sua categoria a ser realizado na América Latina, vem crescendo a cada ano, estando já entre os cinco maiores do gênero no mundo.

A programação, que será exibida nos espaços Oi Futuro e SESC Flamengo, será bem diversificada. A Mostra de Pilotos Brasileiros traz apenas programas nacionais inéditos, permitindo que o público saiba em primeira mão o que vai ser visto na nossa TV nos próximos anos. A mostra Festival dos Festivais exibirá os pilotos vencedores de alguns dos mais importantes eventos de televisão do mundo.

Além disso, o festival será composto também por workshops com renomados profissionais ligados a diferentes segmentos do mundo televisivo e por mesas-redondas que discutirão as novas tendências da televisão.

Por fim, o Encontro Internacional de Televisão, série de debates sobre a mídia televisiva, com convidados nacionais e internacionais, já é promovido pelo Instituto de Estudos de Televisão desde 2001, que o incorporou à programação do festival em 2007. Os debates contam com a participação de alguns dos mais prestigiados estudiosos e realizadores de televisão no mundo que, ao lado de seus colegas brasileiros, discutem o papel cada vez mais relevante do veículo em nossa sociedade.

Informações: http://www.ietv.org.br/festival/

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

E...

O que pode um mapa?





Um rizoma pode ser rompido, quebrado em um lugar qualquer
e também retomado segundo uma ou outra de suas linhas
e segundo outras linhas.
[...]
Um rizoma não pode ser justificado por nenhum modelo estrutural ou gerativo.
Ele é estranho a qualquer idéia de eixo genético ou de estrutura profunda.
[...]
O rizoma [é] mapa, não decalque.
[...]
O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões,
desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente.

[... O rizoma] não é feito de unidades, mas de dimensões,
ou antes, de direções movediças.
Ele não tem começo nem fim,
mas sempre um meio pelo qual ele cresce e transborda.

Deleuze & Guattari
____________________

É um erro acreditar que o pintor esteja diante de uma superfície em branco?
Gilles Deleuze (Lógica da Sensação)

Como sair da tela em branco já preenchida
em que estou?


Como sair da tela em branco já preenchida em que estou?

Rizoma

Um rizoma pode ser rompido, quebrado em um lugar qualquer e também retomado segundo uma ou outra de suas linhas e segundo outras linhas. [...] Um rizoma não pode ser justificado por nenhum modelo estrutural ou gerativo. Ele é estranho a qualquer idéia de eixo genético ou de estrutura profunda. [...] O rizoma [é] mapa, não decalque. [...] O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente. [... O rizoma] não é feito de unidades, mas de dimensões, ou antes, de direções movediças. Ele não tem começo nem fim, mas sempre um meio pelo qual ele cresce e transborda.
Deleuze & Guatarri

domingo, 6 de setembro de 2009

Revista Virtual de Gestão de Iniciativas Sociais

Está disponível a Revista Virtual de Gestão de Iniciativas Sociais, nela você encontra artigos, resenhas e opiniões. A número 8 é dedicada à educação infantil.

Além deste tema, você encontra outros como:
"Patrimônios Comunitários Brasileiros"
"Diálogos com o envelhecimento e a morte"
"Inclusão de Pessoas com Necessidades Especiais"
"Participação em Iniciativas de Interesse Social"
E muitos outros.

Acesse a revista através do link: www.ltds.ufrj.br/gis/index.htm

Contar uma história de amor

Contar uma história de amor
por fim pelo meio
um começo que não veio
nenhuma rima em or

Cantar como quem resiste
resistir como quem deseja
meu vesejar seja
o riso que te festeja

Não
tisteza não
essa é quando
a alma veste luto
e já não luta

Peleja sim
coração
em busca de beleza

Corre anda rsteja
só não deixa fugir
a vida que te beija

Alice Ruiz
Dois em 1